Artigo: Nossas inconfidências
Em 21 abril, Minas mais uma vez falará ao Brasil sobre nossos sonhos de liberdade, igualdade, prosperidade, justiça e paz nas ruas
Publicação: 15/04/2014
Fonte: Jornal Estado de Minas
Minas Gerais celebra todos os anos, no dia 21 de abril, a sua data mais relevante – a Inconfidência Mineira –, oportunidade em que revisitamos os valores e princípios libertários que nos acompanharam durante toda a nossa história. O movimento de 1789 guarda um especial significado para os mineiros, porque carrega a moldura de um dos primeiros levantes em que não se combatia apenas a injusta apropriação das riquezas produzidas pela colônia – em especial ouro e pedras preciosas –, mas o domínio português. Antes, ensaios importantes já haviam acontecido, como o conflito dos Emboabas e, depois, o infortúnio de Felipe dos Santos, de alguma forma preparatórios, ainda que não tivessem, com nitidez, os contornos encontrados na causa da Inconfidência.
Ela diferenciou-se porque já incorporava os elementos simbólicos do liberalismo iluminista europeu, da independência dos Estados Unidos e da Revolução Francesa. Transportadas à Vila Rica de Minas pelos estudantes e intelectuais de então, as novas ideias eram potencializadas pelo torniquete das derramas e a exaustão dos generosos filões que supriam a Corte. Ainda não tínhamos uma clara identidade nacional, mas já se sonhava em Minas com uma república independente, liberta do domínio português.
Entre os revoltosos estava gente de todo tipo – o contratador Domingos de Abreu Vieira; os padres José da Silva e Oliveira Rolim, Manuel Rodrigues da Costa e Carlos Correia de Toledo e Melo e o cônego Luís Vieira da Silva; os poetas Cláudio Manuel da Costa, Inácio José de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga; o coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, o capitão José de Resende Costa e seu filho José de Resende Costa Filho, o sargento-mor Luís Vaz de Toledo Pisa e o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
Os inconfidentes chegaram a discutir os planos de governo e as leis para uma nova ordem, desenhando a bandeira da Nova República, – branca com um triângulo e a expressão latina Libertas quæ sera tamem –, cujo dístico foi aproveitado de parte de um verso de Virgílio interpretado à época como “liberdade ainda que tardia”. Com a traição de Silvério dos Reis, o movimento foi debelado com brutal selvageria – os revoltosos foram presos e degredados; Joaquim José, o Tiradentes, enforcado no campo da Lampadosa, no Rio, depois esquartejado e exposto em praça pública para servir de exemplo.
Ao lado de prestar reverência a esses heróis que primeiro sonharam com a autonomia e soberania brasileira, este ano Minas também fará uma justa homenagem a dois outros episódios, também libertários do Brasil contemporâneo: os 30 anos da Campanha das Diretas Já, marcha responsável pela redemocratização do país, depois de 20 anos de regime de exceção; e as duas décadas do advento do Plano Real, que estabilizou a economia e pôs fim à convulsão hiperinflacionária que comprometia o futuro do Brasil.
Não por acaso, são avanços estruturais liderados por dois outros grandes mineiros. Quando o sonho parecia mais uma vez adiado com a derrota da Emenda Dante de Oliveira no Congresso Nacional, que restaurava as eleições diretas para presidente, Tancredo Neves e seus companheiros souberam articular a saída possível mais curta para o nosso reencontro definitivo com a democracia, e assim vencemos a longa noite de 20 anos do regime de exceção.
Com a recuperação das prerrogativas do estado de direito no país, outro grande desafio precisava ser enfrentado: a convulsão hiperinflacionária, que tisnava o futuro do Brasil. Foi de Itamar Franco o gesto fundamental de convocação do ministro Fernando Henrique para assumir a política econômica do país, passo inicial para a confecção do Real e da conquista da estabilidade. Não seríamos o país que somos hoje, sem democracia e estabilidade.
As melhores tradições políticas de Minas, a visão nacional única de Tancredo sobre uma República Nova, e o compromisso de Itamar e de Fernando Henrique com o futuro do país convergem no orador escolhido para pontuar esses diferentes momentos históricos – o senador Aécio Neves, herdeiro direto do primeiro presidente Civil pós-ditadura; sucessor de Itamar à frente do Palácio da Liberdade e principal liderança política dos sociais-democratas no país.
Importante salientar que este ano a cerimônia será presidida pelo novo governador Alberto Pinto Coelho, que por meio da zelosa escolha de sua equipe de governo e de seus relevantes anúncios de investimentos, demonstra ser ele um governador a altura de nossos mais destacados líderes. Por tudo isso, neste 21 de abril, Minas mais uma vez falará ao Brasil sobre uma república nova ainda inconclusa e os nossos acalentados sonhos de liberdade, igualdade, prosperidade, justiça e paz nas ruas.
Rodrigo de Castro
Deputado Federal (PSDB/ Minas Gerais)