Brasil ainda tem grandes desafios para vencer o analfabetismo, mesmo com os avanços
A data de hoje – Dia Nacional da Alfabetização – é um convite para refletirmos sobre o enorme desafio que nosso país ainda tem pela frente e sobre os bons exemplos que temos no combate ao analfabetismo. Nos últimos anos, conseguimos reduzir consideravelmente o número de brasileiros que não sabem ler e escrever. Desde 2004, houve queda de 3,2 pontos percentuais, de 11,5% para 8,3% de analfabetos entre a população brasileira. Em números absolutos, no entanto, a questão parece mais complexa: segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda hoje 13 milhões de brasileiros são analfabetos.
Um caminho para o Brasil vencer o analfabetismo é aproveitar bons exemplos de alguns estados e municípios. Minas Gerais é um desses casos. Alcançou bons resultados na alfabetização de seus alunos de oito anos. Em 2014, o nível de letramento recomendável foi alcançado por mais de 90% dos estudantes que participaram do Programa de Avaliação da Alfabetização (Proalfa). O teste começou a ser aplicado em 2006.
O resultado indicou que 92,3% dos alunos sabiam ler, escrever, interpretar e fazer uma síntese de texto. Em 2006, os testes apontavam que apenas 48,6% dos alunos alcançaram esse índice.
Um dos maiores responsáveis pela evolução dos alunos mineiros foi o Programa de Intervenção Pedagógica, criado em 2007, no governo Aécio Neves. O princípio básico foi a atuação integrada de analistas educacionais. Foi desenvolvido um trabalho de visitas regulares e acompanhamento escolar para orientar o plano pedagógico de cada escola. Para planejar as ações, eram utilizados exatamente os resultados de avaliações como o próprio Proalfa, que ajudavam a definir quais escolas precisavam de mais atenção, em quais disciplinas e em quais séries.
Outro bom exemplo vem do Ceará, especificamente de Sobral, cidade em que, até 2013, 48% das crianças até os sete anos não eram alfabetizadas. Para combater o problema, o município elaborou um plano de gestão, focado na redução da evasão escolar, valorização do professor e meritocracia.
O projeto deu tão certo que Sobral virou referência no estado do Ceará e também nacional. No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), avaliação do Ministério da Educação, Sobral já alcançou a meta prevista para 2021.
Não há nenhuma receita mágica. O foco e o empenho garantiram o sucesso. Pequenos gestos como um representante da escola ir até a casa do aluno, caso ele não apareça à aula, ou o envio do conteúdo ensinado em aula para os pais, quando o aluno esteve doente, por exemplo, fizeram muita diferença. A evasão escolar foi praticamente zerada.
A capacitação dos professores também foi fundamental. Eles passaram a se reunir mensalmente para discutir o material didático e desenvolver conjuntamente um plano de aula.
Esses exemplos são muito relevantes porque a qualidade do nosso ensino também precisa ser avaliada. Em setembro deste ano, o Ministério da Educação divulgou a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) e um dado preocupante apareceu: 34,34% dos nossos alunos do 3º ano do ensino fundamental têm rendimento inadequado em escrita e 22,07% apresentam resultados abaixo do esperado em leitura.
O 3º ano é a etapa em que a alfabetização termina nas escolas brasileiras. A avaliação indicou que uma, em cada cinco crianças brasileiras com oito anos de idade, não sabe ler. E apenas uma, em cada três, consegue produzir um texto curto e compreensível.
Esses números indicam que o Brasil tem uma dívida enorme com suas crianças e jovens. É absurdo pensar que, ainda no ano de 2015, 13 milhões de brasileiros não podem ter o prazer de ler um livro, se informar com os jornais, além de enfrentar dificuldades com documentos e até mesmo para tomar um ônibus.
Bons exemplos nós temos, mas são casos isolados. É necessário que o Governo Federal assuma a questão da educação como prioridade e tenha mais foco na gestão e nos resultados. Só assim conseguiremos erradicar o analfabetismo, um mal que não deveria existir ainda nos dias de hoje.