Fonte: Revista ISTOÉ

O PSDB reforça a atuação entre os jovens, busca inserção no meio sindical e novas lideranças, mas ainda tropeça nas velhas brigas internas e não consegue aglutinar a oposição

Claudio Dantas Sequeira

Duas semanas depois de encerrado o segundo turno das eleições municipais, os partidos de oposição parecem ainda não ter digerido o recado que veio das urnas. Maior legenda fora da base de sustentação do governo, o PSDB continua se enrolando nas próprias divergências, não consegue aglutinar o restante da oposição ao seu redor e corre o risco de perder importantes lideranças regionais diante da postura de alguns velhos caciques, como José Serra, que insistem em não ouvir as manifestações dos eleitores. “Precisamos deixar de ser uma legenda de amigos que agem como inimigos”, disse à ISTOÉ um dirigente nacional do PSDB. O caminho para que os tucanos consigam uma unidade e voltem a ser efetivamente alternativa de poder no Brasil foi apontado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “O momento é de mudança de gerações”, disse FHC. “Precisamos renovar nossos quadros e nossas propostas.”

Sintonizado com FHC, o senador mineiro Aécio Neves, atualmente a principal liderança nacional do partido, tem corrido o País e ajudado a promover uma série de reestruturações pontuais no PSDB. “Temos que buscar, a partir do Brasil de hoje, uma nova agenda e é a isso que vamos nos dedicar”, diz o senador mineiro. Os tucanos planejam reforçar a atuação entre jovens e mulheres, criaram um braço sindical para tentar se reaproximar dos trabalhadores e, a partir de fevereiro, farão pesquisas periódicas de imagem e uma avaliação do impacto da eleição de jovens políticos, que conseguiram algum espaço onde a influência do grupo serrista foi menor. Da safra de novatos, se destaca o prefeito de Pelotas (RS), Eduardo Leite, 27 anos. Também chamaram a atenção o desempenho da candidata Mariana Carvalho, de apenas 25 anos, que se evidenciou na campanha para a Prefeitura de Porto Velho (RO), e de Daniel Coelho, que obteve o segundo lugar na disputa pela prefeitura do Recife (PE), derrotando o petista Humberto Costa. Coelho, que começou sua militância no PV, foi levado para o tucanato pelo deputado federal Bruno Araújo, que aos 40 anos é líder do PSDB na Câmara e ganha musculatura política. “Há uma nova geração chegando ao partido, ocupando espaços importantes e isso é muito bom”, avalia o secretário-geral do PSDB, deputado Rodrigo de Castro. Ele mesmo, um político de 41 anos, representa a novidade. É ligado ao senador Aécio Neves e integrou seu governo como chefe de gabinete do então secretário de Planejamento, Antonio Anastasia, hoje governador.

Outro fato novo no tucanato será a revalorização da figura de FHC. “É importante o partido valorizar nosso grande nome”, diz Castro. A estratégia da legenda será tratar o ex-presidente como responsável pela política de estabilidade econômica mantida pelos governos petistas e a introdução de programas sociais. Um dos principais defensores da ideia de unir tradição e novidade é justamente Aécio Neves, crítico daqueles que preferiram manter FHC distante de suas campanhas.

 

 

O desafio mais imediato dos tucanos, porém, é restabelecer a confiança com o DEM. Depois de vários escândalos de corrupção, e da sangria de quadros provocada pela criação do PSD de Gilberto Kassab, o DEM voltou a ser cobiçado ao conseguir eleger ACM Neto em Salvador (BA) e João Alves em Aracaju (SE). O problema é que os democratas acham fundamental que a legenda deixe de ser vista como apêndice do PSDB. “Não haverá mais alinhamento automático com os tucanos. O DEM evoluiu e vai seguir seu caminho”, disse à ISTOÉ o presidente da legenda, senador José Agripino Maia (RN). Ele ressalta que o partido, embora encolhido, foi o único da oposição a conquistar uma das quatro maiores capitais do País. “Isso demonstra autonomia.” Um sinal dessa autonomia foi o fato de o partido não endossar o pedido da oposição para investigar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do mensalão. Tema que rachou os tucanos e pode afastar da legenda lideranças regionais importantes como o senador Álvaro Dias, do Paraná, que na última semana acusou o governador Beto Richa de transformar o partido em um “balcão de negócios” e admitiu a alguns interlocutores a possibilidade de migrar para o PDT, que elegeu o prefeito de Curitiba. Segundo Maia, são por divergências como essas que o DEM se vê obrigado a aguardar um acerto de contas entre os tucanos para depois voltar a atuar como um bloco.