Artigo: Cidadão do planeta
Fonte: Jornal Estado de Minas
Data de Publicação: 23/04/2013
Ao cuidar do Rio das Velhas, cuida-se da saúde do homem: de 19 milhões de brasileiros integrantes do planeta Minas
Professor que carrega os alunos para o campo e, a partir daí, constrói o conhecimento; escritor que semeia do que também planta no dia a dia; formulador de soluções que não se contenta com a clareza de suas proposições e submete-se à incontestabilidade da prática; mentor político que rompe com os elos partidários ao perceber que a plenitude da ação política não se alcança sem a vivência dos princípios e das ideias que prega; visionário que estabelece meta para aquilo que muitos julgam utopia ou devaneio; interlocutor que sempre surpreende com sua inteligência e sabedoria; carioca que trouxe a recíproca da simpatia dos mineiros pelo Rio de Janeiro; exilado político que não renega as atitudes que lhe valeram o exílio, e que aproveitou o tempo longe da pátria preparando-se para melhor servi-la na volta; aquariano que quer um aquário cheio de água limpa e de peixe; médico que resolveu tratar do rio – esse é Apolo Heringer Lisboa.
Em 1997, com professores da área médica da UFMG, Apolo criou o Projeto Manuelzão, que, sob o mote da volta do peixe ao Rio das Velhas, desencadeiou um verdadeiro processo de mudança cultural e inaugurou a discussão de um novo conceito de saúde coletiva, que considera o homem parte dos ecossistemas do planeta e não apenas um ente isolado, como o percebe o sistema público de saúde.
Diferentemente dos que fazem o “achismo ambiental”, mais interessados nos ganhos midiáticos da causa ecológica, Apolo, em 2003, desceu os 804 km do Rio das Velhas. Não foi aventura em busca de ouro e pedras preciosas como dos primeiros exploradores, e sim expedição para um diagnóstico mais preciso do rio doente em avançado grau de comprometimento, por quem Apolo passara a gritar socorro à sociedade.
O exame do paciente resultou numa rigorosa prescrição médica, que foi a construção do que chamou Meta 2010: navegar, pescar e nadar no Rio das Velhas, no trecho da Região Metropolitana de Belo Horizonte – meta assumida por Aécio Neves e Antonio Anastasia e, em seguida, transformada em um dos instrumentos estruturadores do programa de governo que, a partir de então, investiu recursos de R$ 1,3 bilhão e prevê aplicar mais R$ 421 milhões, até 2015, em obras de saneamento urbano para recuperar a qualidade da água na Grande BH.Nova expedição foi realizada em 2009 para permitir à população o acompanhamento da Meta 2010 – resultados alcançados e problemas ainda existentes –, assim como reforçar a campanha pela mudança de mentalidade em relação ao rio e à vida na região. Em toda a bacia, foram organizados encontros e oficinas para debate, reflexão e prática de atividades culturais.Reconhecendo que a melhora de seu paciente é ainda parcial, em torno de 60%, e para completá-la, Apolo prescreveu nova receita, que, refundindo e reformulando a Meta 2010, deu origem à Meta 2014. Essa, balizada na construção de uma sociedade com nova visão de mundo, superior e adequada às necessidades de todas as espécies, mantém como objetivo estratégico o nado e a pesca na faixa do rio que corta BH e toda a região metropolitana.
Coerentemente com o conceito de saúde coletiva que vem difundindo, Apolo Lisboa, vencidos os desafios da meta 2014, já tem planos de levar o Manuelzão para as águas do São Francisco e de torná-lo projeto universal, em defesa da vida no planeta.
O Rio das Velhas drena uma bacia de 29 mil km2, onde vivem cerca de cinco milhões de pessoas; e é o principal afluente do São Francisco, que, da Serra da Canastra até o Atlântico, banha uma área de 641mil km2, onde vivem cerca de 14 milhões de pessoas. Ao cuidar do Rio das Velhas, Apolo efetivamente está cuidando da saúde do homem: de 19 milhões de brasileiros, parte integrante do planeta Minas, do planeta Brasil, do planeta Terra. Apolo, cidadão e médico do planeta, missão que é também de todos nós.
Foto: Arquivo pessoal Apolo Lisboa