Percentualmente, o Brasil mata a tiro oito vezes mais que o Chile e três vezes mais que a Argentina

 

Fonte: Jornal Estado de Minas
Data de Publicação:  20/08/2013

 

Uma importante ação de educação coletiva dos últimos tempos foi a campanha de combate ao crime por impulso, motivos banais ou impensados, lançada pelo Conselho Nacional do Ministério Público (MP) e veiculada no fim de 2012 e princípio deste ano. Sob o mote “Conte até 10. Paz, esta é a atitude”, o objetivo era conscientizar as pessoas para evitar que, em situações de conflito, reagissem irrefletidamente contra a vida. A comunicação tinha, como argumento, o assombroso índice de homicídio por motivo fútil, que, conforme pesquisa daquele órgão, representava mais de 50% na média nacional de homicídios, chegando a 53% em Goiás; 74% em Santa Catarina; e 85% em Campo Grande, considerando-se motivo fútil insignificâncias como estas: discussão no trânsito, ciúme, briga entre casais, reclamação de vizinhos (barulho, som alto), desavenças domésticas, torcida por time de futebol, enfim, a morte por nada, por não se conter a raiva momentânea e por não se contar até 10. Estrelada por atletas das lutas marciais, como Anderson Silva, Júnior Cigano, Sarah Menezes e Leandro Guilheiro – profissionais que fazem da agressividade estratégia e arte, a campanha ganhou conteúdo de reforço ao apelo à atitude de paz.

 Nada mais adequado que ter sido esta uma iniciativa do MP, cuja função precípua é a defesa da sociedade. Não que isso lhe seja competência específica. Não, está relacionada com a visão moderna de gestão pública de seus dirigentes e insere-se num contexto em que se observa nítido esforço das instituições em buscar atuações relacionadas com o seu campo de trabalho, que signifiquem contribuição espontânea para o bem comum. Há, cada vez mais, consciência de que as entidades ou organizações fazem parte da sociedade e de que todo bem que a ela fizerem acaba revertendo em benefício próprio. As empresas privadas mostram-se empenhadas em descobrir uma causa social, além do mero negócio ou lucro, que as aproxime de seus clientes, associando a elas uma imagem positiva de parceria, participação e solidariedade, o que acaba resultando em simpatia e fidelidade. No caso do MP, sempre visto por sua atribuição de denunciar e investigar crimes, a campanha evidenciou a sua presença na outra ponta, a da prevenção. E assim, buscando tornar as pessoas menos impulsivas, o órgão está no legítimo e louvável exercício de seu papel de defender a sociedade.

Como em matéria de educação não se pode esperar resultado de curto prazo e sem continuado e planejado esforço (vale aqui o ditado popular “agua mole em pedra dura tanto bate até que fura”), achamos que seria muito bom que o MP pudesse voltar às cargas, com a mesma competência, e que outras instituições, em esforço conjugado, aderissem à ideia. Seria bom e oportuno, sobretudo considerando que o Brasil continua entre os países mais violentos do mundo. De acordo com dados do Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos, recentemente divulgados, o Brasil situa-se em oitavo lugar em homicídios e nono lugar em mortes com arma de fogo, atrás da Venezuela, Colômbia e México.

Percentualmente, o Brasil mata a tiro oito vezes mais que o Chile e três vezes mais que a Argentina, importando ressaltar elementos como: a desigualdade social – o Brasil posiciona-se entre os 10 mais desiguais do mundo; e o abismo da educação – apesar dos avanços, sobretudo no que diz respeito à universalidade, o país ainda está entre os que menos anos de instrução apresentam, destacando-se o baixo nível escolar da população adulta. Enquanto o desempenho dos municípios brasileiros, medido pelo Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDHM) com base nos últimos 20 anos, foi alto e muito alto nos quesitos renda e longevidade, não passou de médio no quesito educação.

Esta campanha representa, portanto, um desafio de nossa sociedade, que deve unir na tarefa de combater, por meio de ações educativas, a falta de tolerância e a reação repentina e impensada das pessoas em situação de conflito ou momento de raiva. A sociedade deve, enfim, organizar-se para impedir a banalização da violência e da vida que está pedindo, de novo, “conte até 10”.

Deputado federal Rodrigo de Castro (PSDBMG)