Fonte: Jornal Estado de Minas
Data de Publicação:  26/02/2013

Ao comemorar os 10 anos de poder, com a presença de Dilma, Lula e partidários, entre eles José Dirceu, “ex-homem-forte” de Lula e futuro “hóspede” da penitenciária paulista, o PT distribuiu uma cartilha, na qual, curiosamente, o foco parece ser não os feitos do partido, mas a desconstrução dos 08 anos de governo do PSDB.

Esse jeito de festejar não mereceu outra classificação senão “coisa de criança, picuinha” por parte de Fernando Henrique Cardoso, cujo governo garantiu conquistas como: estabilidade da economia, ora ameaçada com o retorno da inflação; moderna regulação do mercado, com agências reguladoras, ora cabides de emprego; ambiente jurídico de segurança, propício aos investimentos; lei de responsabilidade fiscal, parâmetro de uma gestão pública ética e profissional, tão atacada pelo PT; confiança externa, ora colocada em risco com a contabilidade criativa; valorização das instituições, como a Petrobrás, que hoje vem perdendo valor de mercado.

Além de não reconhecer esses fatos, a cartilha do PT omite, exagera e distorce muitos deles, levando a conclusões falsas sobre um governo que assentou as bases de desenvolvimento do país. Alega que Lula herdou uma economia em estagnação, com 45% da população em pobreza absoluta. Dados do Ipea mostram que, no último ano de FHC, a taxa de pobreza, que já vinha caindo, era de 34% e, somente sete anos depois, chegou a 21%. Afirma-se que o país, até o final da década de 2010, deve posicionar-se entre as quatro maiores economias. Segundo consultorias, essa posição só deve ser alcançada em 2050. O documento superestima a redução da desigualdade, descrevendo-a como em níveis civilizados, quando a realidade é que o Brasil é um dos mais desiguais do mundo.

Tucano não deve temer comparação entre os governos FHC e Lula, muito menos com o de Dilma. As conquistas da era FHC existiram sem Lula.  As conquistas da era Lula só existiram graças às bases construídas no governo FHC. Não se podem negar os avanços obtidos com a gestão do PT, especialmente o Bolsa-Família, que mesmo tendo alicerces construídos no governo tucano, logrou expansão. Também devem ser reconhecidos erros no governo FHC, especialmente a reeleição e a exacerbada influência da equipe econômica, no segundo mandato, sobre as demais áreas. Mas Lula, anestesiado pela aprovação popular obtida com o Bolsa-Família e a política de salário mínimo, perdeu fantástica janela de oportunidade aberta ao país com a combinação bonança internacional e ambiente interno favorável. Não se preocupou com gestão, combate à corrupção, infraestrutura e continuidade das reformas.

Falando no Senado, Aécio Neves assinalou ausências importantes na celebração petista: a autocrítica, a humildade e o reconhecimento que devem ser matéria-prima do cotidiano político. Alinhou, também, fracassos do PT: a paralisia do país, com o PAC do marketing; a indústria sucateada; a estabilidade ameaçada; a perda da credibilidade; a derrocada da Petrobras; o mito da autossuficiência e a implosão do etanol; a falta de planejamento; o risco de apagão; a insegurança pública e o flagelo das drogas; o descaso na saúde e na educação.

Na cerimônia, o PT lançou também a sua candidata, para continuar o projeto de poder. E Dilma, confirmando a falta de autocrítica, de humildade e de reconhecimento, foi disparando, como suma redentora do Brasil moderno: “Não herdamos nada do governo anterior, nós construímos”, esquecendo-se de que o país viveu um ciclo desenvolvimentista com Itamar, FHC e Lula – com imperfeições sim, mas com progressos, obtidos especialmente com a maturidade da sociedade. É assim que se constrói o projeto de poder do PT. Não é assim, com petulância e denegando as conquistas do povo brasileiro, que se constrói o projeto de desenvolvimento do país.

Não se pode concentrar apenas no debate da comparação interna.  Há que se comparar o país com outros que estão avançando. O Brasil pode estar muito adiante. O povo quer um Brasil justo, competitivo e desenvolvido. É sobre o caminho para essa nova realidade que o debate ser travado.

 

Rodrigo de Castro, deputado federal e secretário-geral do PSDB