Artigo: Caos do porto
Não adianta ter uma grande safra se há gargalos de infraestrutura e de logística que a impedem de chegar ao comprador
Com uma safra de 183 milhões de toneladas de grãos este ano, o Brasil suplanta a produção norte-americana. Foi só o campo agradecer com generosidade os esforços dos agricultores que se tornaram expostas as fragilidades da infraestrutura e logística do país. Portos trabalhando acima da capacidade operacional, com filas de caminhões esperando a vez de descarregar e de navios ancorados para desembarcar fertilizantes e carregar-se dos grãos brasileiros, num tempo de espera de mais de trinta horas. A falta de infraestrutura, no entanto, não se resume ao cenário de caos dos portos de Santos e Paranaguá e entorno. Vai além e tem consequências sérias, que atingem toda a sociedade.
O país não conta com uma malha ferroviária que ligue as regiões produtoras aos principais portos e que possibilite a saída da safra para os portos do Norte, descongestionando Santos e Paranaguá. Por rodovia, a produção acaba agregando custos mais elevados, inclusive com a manutenção dos veículos que, por sua vez, é influenciada pela reconhecida precariedade das estradas. Um custo adicional, verificado na atual safra, tem sido os três dias a mais que os caminhoneiros estão levando na rota Centro-Oeste–Santos, transformando seus caminhões em improvisados silos de alto custo.
Além disso, o país não tem uma suficiente estrutura de estocagem. Muito grão é armazenado a céu aberto e muita produção acaba se deteriorando. A capacidade de armazenamento do país, considerando depósitos públicos e privados, segundo a Conab, é de 148 milhões de toneladas de grãos. Assim, 35 milhões de toneladas da atual safra estarão sob o risco de perda.
Nessas circunstâncias, a exploração do potencial produtivo do país passa a ser contingenciada pela insuficiência da estrutura. Sabe-se que o Brasil tem capacidade de atingir, em mais dez anos, com o aumento da área de plantio e, sobretudo, com a melhora da produtividade, uma produção de 300 milhões de toneladas de grãos. Mas isso só pode ocorrer em harmonia com a expansão da infraestrutura para que não haja frustração dos investimentos do agronegócio. Mostra-se estratégico que o Brasil se prepare para assumir a vocação de celeiro do mundo. Se, por hipótese, a China consumir um ovo a mais por habitante/dia, a demanda adicional por grãos daquele país corresponderá praticamente à metade da produção atual do Brasil. O exemplo pode ser exagerado, mas serve para fazer pensar sobre as potencialidades do mercado e até considerar que há motivos para se admitir um substancial aumento do consumo de ovo no mundo e, consequentemente, de grãos, sobretudo depois que aquele alimento deixou de ser o vilão do colesterol.
Não adianta ter uma grande safra se há gargalos de infraestrutura e de logística que a impedem de chegar ao comprador. Recentemente, a China, alegando atraso na entrega, cancelou a compra de dois navios de soja que deveriam ter chegado àquele país entre janeiro e fevereiro. A medida poderá alcançar a entrega de mais dez navios do produto. É a infraestrutura fazendo refém o comércio exterior e a credibilidade do país.
A causa de tudo isso é a falta de gestão. Havendo gestão, planejamento e estratégia, o investimento surge, mesmo porque a infraestrutura afigura-se como uma das mais alvissareiras oportunidades do país. É preciso que o governo desempaque e passe a comandar a orquestra do crescimento.
Absolutamente não pode a sexta economia do mundo, precisando crescer a um ritmo de 7% ao ano para gerar riqueza e bem-estar para 200 milhões de pessoas, sentir-se aliviada por ter produzido menos, não ter expandido a sua indústria e não ter explorado adequadamente o seu capital natural e humano. Não se admite conformismo com um PIB que só não foi menor, na América Latina, que o do Paraguai, que encolheu.
A modernização dos portos, aprovada pelo Congresso na última semana, é caminho correto que a inércia do governo federal não buscou há mais tempo. Resta saber se para colocá-la em prática terá a agilidade de que os portos precisam.
Deputado federal Rodrigo de Castro (PSDB-MG)