Artigo: O plebiscito do faz de conta
Jogo de faz de contas
Fonte: Jornal “O Tempo”
Data de Publicação: 12/07/2013
Desde o início das manifestações que tomaram conta do país, o governo federal vem desapontando quem acreditou estar diante da possibilidade de inauguração de um novo momento nas relações do executivo com o Congresso Nacional. Desapontamento dos brasileiros e particularmente das oposições, primeiro, pela falta de sinceridade da presidente, ao dizer, em cadeia nacional de rádio e televisão, que não houvera investimento de recursos federais nos estádios. Depois, pela privação da oportunidade do diálogo, substituído pelo monólogo, ao convocar, para fotos, líderes de entidades submissas aos interesses do poder central e, para reunião, em que não puderam manifestar-se, governadores e prefeitos.
A proposta de plebiscito sobre reforma política, lançada logo após a descabida ideia de constituinte exclusiva, mostra, além do improviso guiado apenas por impulso de marketing, a oportunista tentativa do PT de apropriar-se das manifestações populares, servindo-se delas agora para viabilizar a proposta de plebiscito, defendida há anos pelo partido.
Ao fazer-se surdo e cego às reivindicações das ruas, o governo federal nega a evidência e a legitimidade da reivindicação popular. Nega a luta pelo fim da corrupção. Nega a premência da melhoria dos serviços públicos. E, com meia dúzia de perguntas escolhidas segundo o interesse do partido, às quais a população deverá responder, simplistamente, sim ou não, desvirtua o sentido de uma reforma política, confunde e desrespeita a sociedade.
O propósito da presidente, sustentado pela fuga ao diálogo, fica mais evidente na sua recusa em responder à pauta de sugestões apresentadas pelas oposições e que trazem respostas claras, sem subterfúgio, e de aplicação imediata, para o atendimento das reivindicações apresentadas pelos brasileiros, muitas das quais dependentes apenas de sua decisão pessoal, como chefe do Executivo.
Dividida em três eixos – avanço da transparência e combate à corrupção; novo pacto federativo e mais recursos para a melhoria dos serviços públicos; e avanços políticos – a proposta da oposição compõe-se de medidas objetivas, como a diminuição do número de ministérios, o enxugamento da máquina e do número de cargos que podem ser preenchidos sem concurso público – cargos esses que aumentaram de forma abrupta nos governo do PT. Que o governo volte atrás e retome o projeto inicial da Emenda 29 e assuma o compromisso de investir pelo menos 10 por cento das receitas do orçamento federal em saúde, revertendo o quadro que demonstra a diminuição da participação federal nos gastos do setor desde 2003. Essas são algumas das propostas apresentadas ao país e que permanecem ignoradas pela presidente da República.
Ao que tudo indica, provavelmente por sugestão do 40º ministro, o marqueteiro João Santana, a estratégia é reproduzir o que vem sendo a prática do PT: focar na ideia genérica de um plebiscito como ação “salvadora de pátria”, desviando, com isso, o foco das questões que interessam aos brasileiros e que o governo, por diferentes razões, não quer enfrentar; e desqualificando os que não apoiam o caminho, para evitar assim, mais uma vez, o verdadeiro debate que interessa ao país.