A rosa que o vendedor oferece à mulher ou o galanteio de que ela é alvo no dia de hoje nada tem a ver com o sentido de origem do Dia Internacional da Mulher. A sedução do marketing de nosso capitalismo, com seu poder de influenciar, contaminar e obscurecer as pessoas, fez esquecer a coragem e a bravura daquelas mulheres russas que, contra a ditadura de Stalin, exigiam seu país fora da primeira guerra mundial e lutavam por melhores condições de vida e trabalho. Nada tem a ver também com a ousadia daquelas americanas que, no início do século XX, iam às ruas em busca das mesmas conquistas e do direito ao voto.

O dia da mulher, efetivamente, inseriu-se na pauta de nossa sociedade de consumo, tal qual o dia das mães ou dos pais e outros que a sanha mercadológica é pródiga em inventar, perdendo completamente o sentido que os fez surgir. E, no caso do dia da mulher, não é porque a questão de sua independência já está resolvida. É um processo ainda em evolução, com muitas etapas a se desenvolver, inclusive a do adequado posicionamento da mulher frente à sua própria liberdade.

O dia 08 de março é dia de refletir, a partir da luta da mulher, sobre os rumos de nossa sociedade. Não há democracia sem igualdade de gêneros. Não há justiça quando se confunde sensibilidade com fraqueza e beleza com superficialidade. Perde-se precioso tempo na conquista de estágios de desenvolvimento quando se alija a participação igualitária da mulher, no trabalho e nas atividades da vida civil.

O Dia da Mulher seria uma manifesta discriminação, consentida internacionalmente, se não se prestasse a motivar, na sociedade, a discussão e a mudança de atitude em relação à violência que contra ela ainda se comete em todos os cantos do mundo – violência física, que a aniquila dentro do lar e da sociedade; e violência moral, que a diminui pelo assédio machista e pela desigualdade de oportunidades e discriminação salarial.

Por que se deixa, por exemplo, de contratar uma mulher em razão da possibilidade de seu afastamento do serviço por gestação? Se a vida precisa do trabalho e o trabalho precisa da vida, e se a vida e, portanto, o trabalho precisa da mulher, então a gestação passa a ser, não um problema apenas da mulher, mas do homem também e de toda a sociedade. Assim, quando a mulher precisa de uma licença-gestante, somos todos nós que precisamos desse tempo, a ela concedido. A licença-gestante é, pois, uma instituição que favorece o homem, a empresa e o Estado, porque é o tempo de geração de um filho, que é também do homem; de um trabalhador, que é também da empresa, e de um cidadão, que é também do Estado.

Do terreno em que essas questões se enraízam, colho a rosa do respeito e da admiração e a ofereço às mulheres do meu país, do meu estado, da minha cidade, da minha casa, do meu trabalho – mães, trabalhadoras, líderes, parceiras – enfim uma rosa a todas elas que enchem o nosso mundo de beleza, sensibilidade, exemplo de luta e vida.

Rodrigo de Castro