Convivência e solidariedade
Fonte: Jornal Estado de Minas
Data de Publicação: 25/12/2012
Se tudo não recomeçou no último dia 21, como prenunciavam os Maias, seria bom que recomeçasse agora, com o espírito de compreensão e fraternidade característicos da festa de Natal. Seria um novo renascimento da humanidade sob o signo da ideia que inspirou o cristianismo: a solidariedade ante o individualismo das pessoas.
O capitalismo, sistema econômico que se mostrou capaz de gerar a produtividade e o crescimento das sociedades contemporâneas, tem como valor supremo o lucro e, como meio de alcançá-lo, a competição entre as organizações. Como é cada vez mais forte a identificação do ser humano com a organização (o homem é a organização a que pertence), válido é concluir que essa competição se estabelece no nível das pessoas.
Fato também é que, por força da velocidade da vida moderna, consequência natural do próprio sistema, o indivíduo corporativo convive cada vez menos com o seu grupo familiar ou social, tornando-se menos comunicativo, com pouco diálogo e troca substantiva de experiências.
Por outro lado, a educação, voltada mais para o mercado do que para o ser humano, assume, para si, o compromisso de entregar profissionais preparados para concorrer, produzir e garantir lucro para as suas organizações.
Tem-se, assim, a configuração do homem do século 21: egoísta e competitivo. Consequência disso é uma restrição da consciência coletiva, fator preponderante da noção do bem comum e da solidariedade. A percepção do mundo em volta é que leva o indivíduo a atuar em seu ambiente social. As condicionantes da vida moderna, que fissuram o homem na corporação e no sucesso profissional, limitam a apreensão do coletivo e obliteram a capacidade de interação.
O fundamento da solidariedade são os laços que ligam os homens entre si, e pode ser entendido como um processo autoativo, de dentro para fora, que impulsiona os seres humanos a se ajudarem mutuamente. É um pouco diferente da cooperação, que é uma relação de ajuda com reciprocidade, eleição de métodos e definição de objetivos comuns.
Alguns estudiosos consideram que a solidariedade tem correlação com o comportamento desenvolvido pelo homem primitivo para garantir a sobrevivência do grupo. Mostra-se, assim, como uma característica do ser humano condicionada por fatores biológicos relacionados com a fase evolutiva do “homo erectus”, em que o homem se levantou do chão e liberou as mãos. E o fez para comunicar-se. Levantou-se para ver o mundo e enxergar o outro; liberou as mãos para defender-se melhor, mas também para abraçar e interagir com seu semelhante.
Segundo Guiomar Albanesi, importante liderança do movimento voluntário de S. Paulo, presidente do Serviço Social Perseverança, “solidariedade é o amor em movimento”. O amor é a percepção do outro; e movimento, o impulso de interação para entender a realidade do outro e dela participar.
Se o homem de nossos dias carrega fatores biológicos de predisposição à ajuda de seus semelhantes e se isso se mostrou fundamental na sobrevivência da espécie humana e, por outro lado, o sistema produtivo em que o homem se insere condiciona-o a uma consciência coletiva mais restrita, mostra-se necessário um esforço da sociedade no sentido do fomento da cultura da solidariedade, tão importante na reparação dos desequilíbrios que o capitalismo vai deixando pelo caminho.
Esse esforço inclui a aprovação de medidas legais que estimulem as empresas a se engajarem em projetos sociais que extrapolem o seu âmbito de atuação, ajudadas por incentivos fiscais ou apenas por opção de marketing; a criação de campanhas destinadas à formação de uma consciência de solidariedade; estímulos ao voluntariado; divulgação e apoio do trabalho dos empreendedores sociais; e outras ações em que se reconheça que o estado sozinho não constrói cidadania. Precisa de todos. Que o Natal e o ano-novo sejam um recomeço com mais consciência social e solidariedade. Feliz 2013.
Rodrigo de Castro, deputado federal e secretário-geral do PSDB