Fonte: Jornal Estado de Minas
Data: 25/11/2012

Algumas coisas muito nos orgulham como brasileiros e, acima de qualquer divergência ideológica, faz bem reconhecê-las. Internamente, estamos vivendo um momento auspicioso para a democracia com a renovação de nossas lideranças municipais a partir de um processo eleitoral realizado sob a égide da lei da ficha limpa.

No contexto internacional, acabamos de receber da Espanha, na pessoa da presidente Dilma, o Colar da Ordem de Isabel, honraria que somente é concedida a personalidades que, de modo relevante, tenham contribuído para o bem da nação ou favorecido as relações de amizade e cooperação do país com o resto do mundo.
No dia anterior à referida condecoração, Dilma recebera telefonema do presidente do Egito reafirmando a importância da influência do Brasil junto à ONU no sentido de fazer cessar a escalada da violência na região de Gaza.

Em relação à Espanha, que vive grave crise econômica, o Brasil pôde levar a sua experiência e, ousadamente, prescrever receita de como superá-la: a combinação de austeridade com crescimento. Pode ser estranha essa atitude de aconselhamento a um país que, embora em situação de fragilidade, gera, para o seu povo, mais bem estar social que o país que aconselha.
Estranha, mas não sem fundamento. Poucos países viveram um processo tão exercitado e tão doloroso quanto o Brasil para encontrar o caminho do desenvolvimento. A luta contra a inflação durou seguidos anos e seguidos governos, tendo passado pelas diversas tentativas dos conhecidos planos econômicos, muitos dos quais surgidos da observação de outras economias e da inteligência iluminada de renomados técnicos e de políticos e dirigentes, como Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, que se dedicaram à missão de encontrar uma saída para o Brasil. E essa saída veio com o Plano Real que colocou o país em condições de começar a se construir democrática e economicamente, isto é, com riqueza e justiça social.

Por isso, está certa Dilma de oferecer à Espanha ou a qualquer outro país, do e do novo mundo, a experiência do Brasil. E está certa a Espanha de recebê-la com altivez e debruçar-se sobre a nossa história contemporânea e descobrir nela o jeito brasileiro de superar as dificuldades. Está certo o Brasil de abrir-se e lançar-se ao mundo para dar continuidade a seu processo de desenvolvimento. Está certa a Espanha de dar passos em direção ao Brasil, um país de 8,5 milhões de quilômetros quadrados e de 200 milhões de pessoas que precisam de infraestrutura – rodovias, ferrovias, portos e aeroportos; que precisam de avanços tecnológicos na área da informática e da comunicação. Está certo o Brasil de cobrar respeito a seus cidadãos, tantas vezes afrontados, em sua dignidade, pela gente da imigração espanhola. Está certa a Espanha de fazer apelo, pela voz do rei, para que haja mais espanhóis no Brasil. Eles precisam de nós assim como nós precisamos deles, nesse mundo globalizado moderno que não deixa outra possibilidade senão a da parceria.

Por um conjunto de fatores que vieram sendo construídos ao longo dos últimos vinte e cinco anos, entre os quais se evidencia o processo de conquista da estabilidade que ensejou, mais recentemente, o de inclusão social, o mundo passou a acreditar no Brasil e a contar com a sua colaboração na esfera internacional, intermediando soluções pacíficas e liderando ajudas humanitárias, a ponto de ganhar, ao lado do direito de postular uma cadeira na ONU, o status de parceiro desejado das grandes economias entre os quais passou a inserir-se. Parabéns a Dilma, quando busca cultivar esse bom momento do Brasil e a torná-lo duradouro e efetivo. Há que se ter um olho voltado para fora, em busca de bons negócios para o país. Mas há que se ter o outro olho voltado para dentro, para a nossa indústria que vem dando sinais de enfraquecimento; para a política econômica, cuja robustez vem sofrendo os abalos da improvisação e das soluções paliativas que apenas camuflam e adiam problemas cruciais; para a infraestrutura, cuja insuficiência e obsolescência concorrem para o aumento dos preços e para a falta de competitividade de nossos produtos; para o atendimento à saúde que hoje constitui pesadelo de nossas famílias; e, especialmente, para a educação, única variável capaz de colocar e sustentar o Brasil entre as grandes nações.

Com o olhar nessas duas direções, podemos invadir o reino da Espanha para levar o nosso conselho, mas também para trazer alguns exemplos.

Rodrigo de Castro, Deputado Federal e Secretário-Geral do PSDB